Ela sorria e ao
observá-la, perguntava-me: - Como alguém podia ter um sorriso tão belo e
radiante em plena manhã?
Poucos sabiam, mas
anoite o frio se fazia grande dentro daquela menina. Tentando ela, por vezes,
sorrir ao travesseiro e esconder dele suas lágrimas, porém, por alguns motivos,
elas continuavam caindo e escorrendo a dor e o peso de sua vida. De uma vida
que lhe parecia grande demais, a ponto de tentar fazê-la parecer uma formiga
avistando o sapato que irá esmagá-la.
E ali, em meio ao
seu pranto ela era ela. Ela sozinha. Ela com seus mil e um problemas. Ela com
suas indagações que no meio de tantas interrogações a fazia se perder, ainda
mais. Ela e sua janela aberta, para suas conversas intermináveis com as
estrelas, em busca de resposta ou de um milagre, quem sabe? E então, enfim, era
ela a dormir.
O dia amanhece e ela
vai enfrentar a vida longe do seu mundo. Eu estou ali, parado, imóvel,
esperando para a hora em que ela irá sair do quarto, e então, antes de abrir a
porta seu sorriso se projeta no espelho em frente à cama. É o mais belo de
todos os sorrisos, parece um ensaio de como ela vai demonstrá-lo ao mundo lá
fora.
Hoje após tanto
tempo observando-a, eu pude entender! Pessoas tristes possuem o sorriso mais
bonito, delicado e radiante. Pois, o mundo ao seu redor, que não é seu, não
teria guarda-chuva ou proteção suficiente para os seus temporais.
- E eu, como seu
travesseiro e fiel amigo que sou. Aguardo-te ao anoitecer para me fazeres rio
ou para que sorrias, mas, por favor, se for para sorrir que seja por uma
alegria real. Afinal, um dia a vida tem que te fazer feliz. Não achas?
Júlia Santos